Resenha: Crudo (Olivia Laing)

Tem livros que são apenas... diferentes. É o caso de Crudo, romance de estreia da Olivia Laing que foi muito bem avaliado lá em 2018 e desde então esteve na minha wishlist. Demorei um pouco para finalmente ler, mas foi uma experiência bem interessante que irei agora compartilhar com vocês. 

crudo livro

SINOPSE

Kathy is a writer. Kathy is getting married. It’s the summer of 2017 and the whole world is falling apart.
Kathy spends the first summer of her forties trying to adjust to making a lifelong commitment – marriage. But it’s not only Kathy who is changing. Political, social and natural landscapes are all in peril. Fascism is on the rise, truth is dead, the planet is hotting up. Is it really worth learning to love when the end of the world is nigh? And how do you make art, let alone a life, when it could all end at any moment?
From a Tuscan hotel for the super-rich to a politically-paralysed UK, Olivia Laing's first novel is a love letter, inspired by the life and work of Kathy Acker. It is a blistering rewire of the form and a brilliant, funny and emphatically raw account of love in the apocalypse.


crudo capa

Pra começar, gostaria de dizer que esse livro está naquela categoria de "mulheres fodidas da cabeça", que vem ganhando tanto espaço nas redes sociais e nas prateleiras ultimamente. Como fã de Sally Rooney que sou, logo gostei da premissa desse aqui também. Basicamente temos uma protagonista que ainda não se adaptou à vida adulta, que questiona todas as suas decisões e se sente insegura com o futuro. Escritora de sucesso e prestes a se casar, Kathy ainda não sabe muito bem o que quer da vida. 
What a waste, what a crime, to wreck a world so abundantly full of different kinds of flowers. Kathy hated it, living at the end of the world, but then she couldn't help but find it interesting, watching people herself included compulsively foul their nest." p. 18
"Que desperdício, que crime, estragar um mundo tão abundantemente cheio de diferentes tipos de flores. Kathy odiava isso, viver no fim do mundo, mas então ela não conseguia deixar de achar interessante, observando as pessoas, incluindo ela mesma, compulsivamente sujarem o próprio ninho." [tradução minha]

Tudo isso Kathy precisa enfrentar enquanto o mundo cai aos pedaços. A obra representa bem a sensação apocalíptica das duas últimas décadas, repletas de mudanças políticas, sociais, econômicas, ambientais. Há referências a Trump, a conflitos bélicos ao redor do mundo, ao aquecimento global. Tudo isso através das notícias e tweets que Kathy lê diariamente, sendo sempre bombardeada de novas informações.
Porém Kathy não é uma personagem tão interessante assim, pelo menos não na minha opinião. Ela é uma mulher repleta de privilégios, presa numa bolha, que está numa fase meio confusa mas parece precisar de alguém que a sacuda e grite "mulher, reage!". Não sei se a intenção era retratar alguém assim, mas achei a Kathy bem rasa. Porém, suas reflexões são bastante válidas.

***

Algo muito diferente neste livro é a narrativa. Nele, temos Kathy narrando sobre si mesma em terceira pessoa. Ele já começa assim: "Kathy, by which I mean I, was getting married", e a partir daí sabemos que é ela que está nos contando tudo. 
In the 1990s, when she was young, she'd wept and sliced up her own flesh at the blink of an eye, she loved to get truly abject, but now she'd dried out, she was as cool and brown and flat as piece of discarded toast, not appetising exactly, not desirable, but fodder for someone, a pigeon at least." p. 6 

"Na década de 1990, quando ela era jovem, ela chorava e cortava sua própria carne num piscar de olhos, adorava se tornar verdadeiramente abjeta, mas agora ela se secou, estava tão calma e marrom e plana quanto um pedaço de torrada descartada, não exatamente apetitosa, nem desejável, mas alimento para alguém, nem que seja um pombo." [tradução minha]

Outro elemento interessante é que Kathy é uma pessoa real. Mas nem tanto. É que a autora Kathy Acker realmente existiu, porém ela faleceu em 1997, aos 50 anos. Este livro se passa em 2017, com uma Kathy na casa dos 40. Ao que parece, a intenção de Olivia Laing foi a de se inspirar na vida da falecida escritora para escrever um romance contemporâneo em que ela é a protagonista. 

***

Crudo ainda não foi lançado em versão brasileira, mas espero muito que isso aconteça logo (alô, editoras!). Um outro livro da autora, A cidade solitária, já foi publicado pela Anfiteatro, selo da editora Rocco. Olivia Laing tem se destacado bastante no mercado editorial, e quero muito ler outros de seus trabalhos. 


ISBN: 978-0-393-35741-7
Editora: Norton
Nota: 3,5/5⭐

0 Comentários