Resenha: Os tais caquinhos (Natércia Pontes)

Um pai acumulador e duas filhas adolescentes, vivendo num apartamento caótico onde falta muita coisa. Esse é o contexto de Os tais caquinhos, primeiro romance da Natércia Pontes, autora que chegou à final do prêmio Jabuti com o livro de contos Copacabana Dreams. A história deste romance de formação é repleta de peculiaridades, mostrando as descobertas da adolescência em um contexto insólito.

os tais caquinhos

SINOPSE

Faltava muita coisa no apartamento 402. Mas sobravam muitas outras: caixas de papelão, bandejas de isopor, cacarecos, baratas, cupins, muriçocas, poeira, copos sujos. Abigail, Berta e Lúcio formam um trio nada convencional. Duas adolescentes dividem o apartamento com o pai, um homem amoroso, idiossincrático, acumulador, pouco afeito à vida prática, que torce para que a morte venha logo lhe buscar e dá conselhos incomuns às filhas: “É muito bom sentir fome”.
Os tais caquinhos é um romance de formação trágico e comovente, capaz de arrancar risos nervosos. Ao descrever o dia a dia de uma família simbiótica em meio à cordilheira de lixo que só faz crescer, Natércia Pontes desenha um fascinante retrato de três pessoas que buscam conviver com seus sonhos e suas fantasias, suas manias e seus anseios, seus medos e suas revelações.

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Narrado por Abigail em um formato intimista, que remete à um diário em alguns trechos, Os tais caquinhos trata de uma adolescência envolta em dramas familiares. O que se destaca logo de início é a falta: de ordem, de comida, de carinho. O que sobra é o caos, que é descrito de maneira visceral e que por vezes chega a ser repugnante, como quando insetos e odores invadem a convivência naquele apartamento. 

As poucas páginas trazem fragmentos, caquinhos da vida de Abigail, que fala sobre o colégio, a irmã mais nova Berta e seu pai, Lúcio, que cria as meninas de maneira incomum, afirmando que é bom sentir fome e dias depois levando as meninas para um banquete num restaurante, atento de forma compulsiva à possíveis vazamentos de gás. As reflexões de Abigail demonstram um lento processo de amadurecimento, que se dá através de cada uma de suas experiências e relações amorosas e de amizade.

Querido diário, eu estou com medo de crescer. Essa frase é patética, mas é pura verdade. Eu não formulei opiniões, eu não sei qual opinião eu vou tomar diante das coisas, eu não sei." p. 39

Essas experiências de Abigail nem sempre são fáceis de ler, por mais que sejam narradas com fluidez. Há cenas de violência e abuso, além de uma constante autodepreciação por parte da protagonista, que sofre ao tentar se enxergar como alguém que valha alguma coisa. Mas durante todo o tempo em que li os relatos de Abigail, torci por ela. Sua história nos causa empatia, e é fácil se colocar em seu lugar por ela apresentar questionamentos com os quais é possível se identificar.

Não sei qual fundamento me fez vir ao mundo, já que não contribuo para nada, nem para o meu próprio benefício. [...] Sou muito nova ainda. E já acho que não vou ter forças para viver." p. 82

A escrita da Natércia é muito envolvente, sensorial e intensa, nos fazendo não querer parar de ler até chegar ao fim do livro. Em suas 138 páginas ela consegue nos contar uma história em que faltam alguns pedaços, mas de uma maneira que faz sentido. Não é possível descobrir tudo sobre Abigail, Berta ou Lúcio, nem sobre a ex mulher de seu pai, Zoma, que os deixou levando Huga e Ariel. Faltam partes na história assim como faltam coisas na vida dessa família, e terminei o livro pensando que tudo bem não saber tudo. Só o que quero agora são mais livros da Natércia, que com certeza terão o potencial de me agradar tanto quanto este.

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ISBN: 978-65-5921-006-0

Editora: Companhia das Letras

Nota: 5/5 ⭐

2 Comentários

  1. Achei bem interessante a premissa desse livro. A adolescência por si só já é uma fase delicada, quando se passa em situações difíceis e fora da normalidade, como as descritas no post, se torna ainda mais complicada. Sem nem conhecer Abigail, já torço para que tudo dê certo com ela. Parece uma boa leitura.

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  2. Nossa, achei a premissa do livro muito fascinante! Mesmo que seja difícil entrar na cabeça de uma adolescente assim, é importante a gente ter essa fase fresca na memória, onde tudo é tão intenso e eletrizante. Incomoda, mas sou fascinada por romances que exploram jovens desse jeito. E nem foi só isso, o pai acumulador e o que isso causa na vida das meninas, fiquei bem curiosa pra conhecer essa família, e sua resenha foi super "culpada" disso!

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