Resenha: Se a rua beale falasse (James Baldwin)

Este livro passou anos na minha lista de desejos, e mais alguns meses na minha estante até que finalmente resolvi que era hora de ele ser lido. Sempre tive curiosidade sobre a escrita do James Baldwin, autor estadunidense que ficou conhecido como "o grande crítico do sonho americano". Li este, que é o seu quinto romance, algumas semanas atrás e abaixo irei contar mais sobre. 

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SINOPSE


Tish tem dezenove anos quando descobre que está grávida de Fonny, de 22. A sólida história de amor dos dois é interrompida bruscamente quando o rapaz é acusado de ter estuprado uma porto-riquenha, embora não haja nenhuma prova que o incrimine. Convicta da honestidade do noivo, Tish mobiliza sua família e advogados na tentativa de libertá-lo da prisão.
Se a rua Beale falasse é um romance comovente que tem o Harlem da década de 1970 como pano de fundo. Ao revelar as incertezas do futuro, a trama joga luz sobre o desespero, a tristeza e a esperança trazidos a reboque de uma sentença anunciada em um país onde a discriminação racial está profundamente arraigada no cotidiano.


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Nas primeiras páginas do livro somos apresentados à jovem narradora Clementine, apelidada de Tish. Logo descobrimos que ela está grávida de Alonzo, apelidado de Fonny, que está preso por um crime que não cometeu. Tish ama Fonny, e Fonny ama Tish, então ela está disposta a tudo parar tirar o seu companheiro da cadeia. 
Este é um romance peculiar, em que o amor não está simplesmente nas palavras, mas nas atitudes, no comprometimento e na confiança que um tem no outro. Os relatos do passado de Tish e Fonny vão nos fazendo entender por que eles se amam tanto, contando a forma como se conheceram e se apaixonaram, e também as suas primeiras experiências sexuais. Nestes relatos também descobrimos mais sobre a realidade das crianças pretas norte-americanas, e a fala de Tish traz reflexão e revolta a respeito de todo o descaso presente na vida delas. 
Embora a morte tomasse muitas formas diversas, embora as pessoas morressem cedo de maneiras bem diferentes, ela própria era bem simples e a causa também era simples, tão simples quanto uma peste: foi dito às crianças que elas não valiam merda nenhuma, e tudo o que viam ao redor comprovava isso." p. 43-44
O livro é narrado como uma conversa informal entre Tish e o leitor. Não há uma preocupação em explicar todos os fatos em detalhes, o que é ótimo pois evita aquela encheção de linguiça. Em alguns momentos fiquei confusa com a narração do texto, como quando Tish, num mesmo parágrafo, chama a mãe pelo nome e também de "mamãe", dando a impressão de serem duas pessoas diferentes. Por outro lado, os diálogos são muito bem construídos, e as cenas com a família de Tish e de Fonny são muito boas, com brigas acaloradas que nos fazem nos sentir como uma mosquinha na parede acompanhando tudo. 

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O livro carrega revolta, raiva pela violência e pelas cicatrizes presentes não só na vida dos personagens mas na da maior parte da população afro-americana. É um retrato de décadas de desigualdade social, mostrando de maneira muito real o medo enfrentado por aqueles que vivem situações de injustiça como a do livro. 
Nem o amor nem o terror deixam a gente cega: só a indiferença faz isso" p. 102
O enredo tem um final aberto e abrupto, o que me incomodou bastante. Muita coisa aconteceu nas últimas páginas, criando um ritmo frenético que do nada foi interrompido. Entretanto a obra foi boa o suficiente pra me deixar encantada pela escrita de James Baldwin. Quero muito conhecer outros trabalhos do autor, que escreveu não só prosa mas também ensaios e poesias. 


ISBN: 978-85-359-3194-5
Editora: Companhia das Letras
Nota: 3,5/5⭐

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