Ao ler as primeiras divulgações deste livro, um ponto me pareceu promissor: diziam que iria agradar os fãs de Sally Rooney. Apesar de da última vez que eu levei isso em conta para ler um livro a experiência ter sido ruim, resolvi dar uma chance a este que é o segundo romance do autor americano Brandon Taylor.
SINOPSE
Em meio às ruas, aos bares e ao campus universitário de Iowa City, circula um grupo singular do último ano da pós-graduação. Entre escritores, dançarinos e músicos estão Seamus, um jovem poeta que não esconde dos colegas suas opiniões afiadas; Ivan, que precisou abandonar a carreira na dança depois de um golpe do destino e passou a recorrer à pornografia amadora; Noah, um bailarino cuja personalidade o deixa exposto a relacionamentos tempestuosos; e Fatima, que, cercada por julgamentos dos outros, precisa conciliar turnos de trabalho em um café com os ensaios de dança na faculdade. Os quatro são confrontados por um elenco de professores, namorados, vizinhos e colegas que levam ao limite os dilemas relacionados à identidade e à carreira. Envolta em preocupações com o futuro, frustrações com a vida artística e buscas por conexão e autoconhecimento, essa constelação de vidas mostra as forças multifacetadas que operam no presente — a falta de horizonte, as diferenças de gênero e classe, o racismo e a precarização —, que estão refletidas nas personalidades, nas escolhas e nos relacionamentos desses jovens inquietos e talentosos. Com Vidas tardias, Taylor conduz a literatura contemporânea a novos rumos e estabelece diferentes parâmetros para o que ela é capaz de desdobrar.
Esse livro me fez pensar o quanto nós, jovem adultos, podemos ser chatos. Não que os personagens do livro sejam chatos, longe disso, mas o autor retrata bem as inseguranças, os questionamentos, as atitudes nem sempre bem pensadas de quem está na casa dos 20. E isso, às vezes, reflete uma chatice própria da geração (eu inclusa). Todos tão infelizes, tão incompletos, tão questionadores da própria existência. Como já estou bem perto dos 30, sinto que aos poucos o amadurecimento vai diluindo isso (ainda bem).
Para além dessas minhas divagações, vamos ao livro em si: aqui, temos jovens no contexto acadêmico narrando pedaços de suas histórias. Cada capítulo traz um ponto de vista diferente; a maioria estuda dança, mas há também os poetas e os que ainda estão na incerteza de que caminho seguir. A maioria são homens gays, alguns interligados — a medida que vamos lendo, descobrimos que fulano é namorado de beltrano e melhor amigo de sicrano. Confesso que em certa medida isso foi meio confuso, sobretudo pela escolha dos nomes de personagens, que são curiosamente bastante europeus (Fyodor, Seamus, Ivan etc.). Mas cada um deles tem uma percepção diferente, baseada no seu passado, em sua classe social, em sua raça. Essa amálgama de visões acaba por refletir muito bem a confusão que é a contemporaneidade.
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Outra coisa que este livro me fez refletir é de que hoje em dia nada basta. Não basta escrever um bom poema — ele tem que ser profundo, visceral, tem que causar impacto, ser chocante. Não basta ser um bom dançarino, tem que estar disposto a morrer pela dança. Todo mundo sempre está errado e os outros sempre tem algo a apontar e dizer: você poderia fazer isso melhor.
Amar as pessoas era difícil. Às vezes era difícil acreditar que as pessoas eram boas. Era difícil conhecer as pessoas. Mas isso não significava que você podia apenas seguir sem tentar. Fyodor acreditava que o amor era mais do que gentileza e mais do que dar às pessoas o que elas queriam. O amor era mais do que as partes fáceis e prazerosas. Às vezes amar era tentar entender. O amor era tentar superar as dificuldade. Amor, amor amor." (p. 91)
Brandon Taylor teve muitas coisas legais a dizer neste livro, mas senti que o tom é um tanto monótono. Há também as cenas de sexo que podem chocar o leitor mais contido, mas que demonstram os desconfortos e atropelos comuns nas relações do mundo real. É legal ver os personagens descobrirem mais sobre si mesmos, experimentarem coisas novas ou enfrentarem os seus traumas de alguma forma.
No entanto, senti que a escolha de trazer tantos personagens (são mais do que os quatro citados na sinopse) não foi tão positiva, pois faltou profundidade. Gostaria de ter visto um ou outro ser melhor desenvolvido, pois pareciam tão complexos! Queria ver mais das reflexões de Fátima sobre classe social, mais sobre Daw e o enfrentamento de seu passado, e mais sobre Bea, que parece ter ficado perdida ali no enredo. Não é sobre uma continuação, sabe? É sobre conhecer mais da mente deles, ler mais reflexões sobre o seu contexto. Senti falta disso.
Nessas ocasiões em que duas pessoas das quais ele gostava muito não se davam bem, Noah se perguntava o que fazer com a perniciosa natureza da lealdade. Não se poder ser tudo para todo mundo, e toda amizade continha essas microtraições. Essa era a essência da vida." (p. 205)
A escrita do Brandon Taylor é leve, gostosa de ler, despretenciosa. Os personagens, por outro lado, as vezes são um pouco pretenciosos, mas da forma como jovens acadêmicos costumam ser. Lendo clássicos, tentando impressionar, tentando ser vistos. Se parece com o estilo de Sally Rooney? Eu diria que em certa medida sim, mas principalmente pelo fato de tratar de questões da juventude contemporânea de uma maneira que gera identificação, e não necessariamente por ter o mesmo ponto de vista ou as mesmas ideias.
Há também uma beleza nas relações de amizade deste livro. As minhas cenas favoritas foram aquelas em que os amigos se reuniam, batiam papo, se divertiam. O último capítulo me alegrou muito nesse sentido, e terminei o livro sorrindo e com vontade de ler outros trabalhos do autor. Dito isso, recomendo a obra e fico curiosa para saber a impressão de vocês!
ISBN: 978-65-6000-072-8
Nota: 3/5⭐
Po bem interessante o conceito do livro, imagino que talvez seja muito confuso mesmo tantos personagens, as vezes filmes ou séries já são confusos tendo rostos associados aos nomes, consigo imaginar a confusão quando são só nomes, hehe.
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