Frida Kahlo é, sem dúvidas, uma das figuras mais reconhecíveis na cultura pop. Sua imagem atravessou o tempo e se fixou no imaginário coletivo como símbolo de resistência, de arte visceral, de dor transformada em linguagem. Ainda assim, mesmo com tantos livros, filmes e exposições dedicados à sua trajetória, sempre parece haver algo mais a descobrir. Foi isso que senti ao ler Frida Kahlo: uma biografia, da artista espanhola María Hesse.
Lançado no Brasil pela editora L&PM, o livro combina ilustrações autorais com passagens da vida de Frida, mesclando elementos biográficos, trechos de cartas e diários com uma escrita sensível e subjetiva. O resultado está longe de ser uma biografia tradicional. É, antes, uma recriação poética da existência de uma artista que fez da própria dor matéria-prima para criar.
A edição brasileira é muito cuidadosa. O livro tem acabamento de qualidade, papel encorpado e um projeto gráfico que valoriza o trabalho visual de Hesse. Cada página parece construída para ser sentida. Há cores intensas, símbolos costurados aos episódios da vida da artista (tem até mesmo uma receita!) e um ritmo narrativo que acompanha seus altos e baixos, sem jamais perder a ternura.
María Hesse nasceu em Huelva, na Espanha, em 1982, e tornou-se conhecida pelas biografias ilustradas de figuras como David Bowie, Marilyn Monroe e, claro, Frida Kahlo. Seu traço é inconfundível, com forte presença do onírico, do simbólico e do feminino. Ela mesma já disse que se interessa menos pelos fatos em si e mais pelo modo como eles foram sentidos por quem os viveu. É por isso que seus livros escapam de uma leitura meramente informativa e se transformam em experiências sensoriais.
A vida de Frida, como se sabe, foi atravessada por dores físicas, perdas afetivas, inquietações políticas e amorosas. Desde a infância marcada por uma deficiência, passando pelo grave acidente de bonde na adolescência, até sua relação intensa e tumultuada com Diego Rivera, a trajetória da artista revela uma sucessão de reinvenções. Frida pintou enquanto estava deitada, com o corpo fraturado, e vestiu roupas tradicionais mexicanas para disfarçar suas cicatrizes, mas também para afirmar suas raízes. Recusou os moldes de feminilidade impostos à época, viveu relacionamentos com mulheres e homens, e transformou seu sofrimento em imagem.
Mesmo conhecendo parte dessa história, me surpreendi com o quanto aprendi nesta leitura. O livro me revelou detalhes e episódios que eu ainda não conhecia e o fez com leveza, sem jamais cair no tom didático ou heroico. A escrita de Hesse, em primeira pessoa, mistura realidade e ficção de modo delicado, como se fosse a própria Frida quem contasse sua vida. Isso torna a leitura íntima, como quem escuta uma confidência.
Não se trata de uma obra definitiva sobre a artista, nem tem essa pretensão. Mas é, sem dúvida, uma biografia que olha para Frida com afeto e imaginação. Ao final, o que fica não é apenas o retrato da artista consagrada, mas da mulher que se permitiu viver, amar, sofrer, pintar e não se reduzir às circunstâncias.
Para quem já admira Frida, o livro é uma forma de revisitá-la com outros olhos. Para quem ainda não conhece sua história, é uma bela porta de entrada, rica em imagens, cores e humanidade.
ISBN: 9788525436849
Editora: L&PM
Nota: 5/5⭐
Oie! Já vai para a minha lista, adoro livros assim com cada página bem pensadas, com trechos de cartas e diários. Eu acho incrível poder viajar nas histórias que realmente existiram.
ResponderExcluirmeu blog
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