O ritual: mais um exorcismo americano

O Ritual (2025) tem como premissa relatar o caso de possessão demoníaca mais bem documentado da história. Logo nos primeiros segundos, o filme já afirma que sua trama é baseada em eventos reais, mais especificamente no exorcismo de Emma Schmidt, ocorrido em 1928, em um convento ao norte de Earling, Iowa. Trata-se do mesmo caso que teria servido de inspiração para o clássico O Exorcista (1973), e que agora ganha uma nova adaptação pelas mãos do diretor e roteirista David Midell.

crítica o ritual

O filme tem como cenário a congregação do padre Joseph, interpretado por Dan Stevens, e traz uma abordagem que, como afirma a Megan McCluskey na Time Magazine, "apresenta as aflições de Schmidt como sintomas de possessão demoníaca em vez de doença mental ou outras influências, uma decisão que posiciona o filme como um thriller baseado na fé, apesar de um cartão de título final que reconhece que há aqueles que duvidam dessa narrativa." Esse aspecto traz certo desconforto e questionamentos tanto para os personagens dentro do filme quanto para quem assiste. 

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A opção estética mais marcante do filme talvez seja sua maior fraqueza. A câmera trêmula, os zooms abruptos e os ângulos desconfortáveis lembram o estilo da série The Office,  mas sem a parte documental, sem que os personagens falem com a câmera e sem justificativa narrativa clara para essa escolha. O resultado é uma tensão diluída em cenas confusas, que mais atrapalham do que ajudam a criar clima. Não conheço o diretor David Midell, então não tenho como afirmar se essa é uma marca de estilo frequente, mas achei que particularmente empobreceu a narrativa. 

O destaque do elenco fica por conta de Al Pacino, que interpreta um dos padres responsáveis pelo exorcismo. Mesmo com um roteiro limitado, ele consegue dar alguma densidade à sua presença em cena. Dan Stevens, no papel do outro padre, mais jovem e cheio de dúvidas, entrega uma atuação razoável, mas seu personagem tem momentos, em minha opinião, particularmente irritantes na primeira metade do filme.

Ashley Greene aparece pouco e sua personagem é pouco desenvolvida, o que parece um desperdício, principalmente quando se considera o destaque ao seu nome nos cartazes do filme. A garota possuída (Abigail Cowen), centro da história, também não ganha espaço suficiente para que nos importemos com ela. Sabemos quase nada sobre sua vida antes dos eventos do filme, e sua atuação, embora funcional, não marca, principalmente se comparada a outras representações memoráveis de possessão no cinema.

*** 

Apesar de ser inspirado em um caso real, O Ritual opta por repetir praticamente todos os elementos já vistos em outros filmes do gênero: estalos de ossos, corpos pendurados na parede, vômitos escuros, olhos virando. Não há sustos memoráveis nem um clima que se sustente. É um filme que segue a cartilha sem questioná-la ou reinventá-la, o que pode agradar a quem nunca viu nada do tipo, mas frustra quem já está familiarizado com esse tipo de narrativa. Mesmo sendo um filme baseado em uma história já bem conhecida, ele poderia ter inovado nestes detalhes. 

Se você já assistiu a outros filmes de exorcismo e busca algo diferente, esse aqui provavelmente vai soar repetitivo. Agora, se esse é o seu primeiro contato com esse tipo de história, talvez O Ritual funcione como uma porta de entrada.

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