O que eu descobri ao catalogar todos os meus livros

Nos últimos meses decidi catalogar meus livros de uma forma diferente. Sempre usei aplicativos para acompanhar leituras, mas percebi que eles entregavam estatísticas limitadas e pouco flexíveis. Criei então uma planilha própria, onde registrei dados da minha biblioteca pessoal e pude manipular as informações livremente. O processo, que começou como uma tentativa de organização, acabou revelando fatos interessantes sobre o meu hábito de leitura. 

estante

Quantos livros tenho e quantos já li

O levantamento mostrou que possuo atualmente 390 livros físicos. Desses, 163 permanecem não lidos. O número é expressivo e revela algo comum entre leitores: a estante como espaço de acumulação, em que a expectativa de leitura nem sempre acompanha o tempo disponível. Além disso, parte dessa acumulação vem dos anos de parcerias com editoras, o que fez meu acervo crescer exponencialmente (e sou muito feliz por isso!), mas infelizmente nem sempre dou conta de ler todos os recebidos. 

Somando os livros lidos que tenho e os que não estão mais comigo, por terem sido emprestados, doados ou vendidos, além dos lidos em formato digital, o total de leituras chega a 298 títulos. Um bom número para mim pois, considerando que sou uma leitora assídua há pelo menos 20 anos, tenho uma média de 14 livros lidos por ano. No Kindle, especificamente, foram 39 livros ao longo de quase dez anos de uso. O dado me surpreendeu: eu esperava um volume maior, mas percebi que, apesar da praticidade do dispositivo, minha relação com o livro físico continua predominante.

Quem escreve os livros que leio

Ao organizar minha biblioteca, considerei importante observar também a autoria dos livros. Entre os títulos catalogados:

  • 56% são de autoras mulheres

  • 43,6% de autores homens

  • 0,4% de autores não binários

Ter maioria feminina na estante contrasta com a histórica predominância de homens no mercado editorial e mostra uma escolha consciente de buscar vozes diferentes. Ainda assim, a presença quase inexistente de autorias não binárias aponta para o quanto ainda há a ampliar em termos de diversidade.

O desafio das categorias literárias

Na tentativa de classificar os livros por gênero, criei 13 categorias distintas. A maior parte está concentrada em romance e ficção contemporânea, mas percebi a fragilidade dessas divisões. Muitos livros escapam dos rótulos ou poderiam se encaixar em mais de uma categoria.

Essa constatação mostra como os gêneros literários funcionam: úteis para organizar a produção editorial, mas limitados quando aplicados à experiência concreta de leitura. Uma das próximas etapas será revisar essas categorias para que façam mais sentido para o meu acervo, e acredito que reduzir as variações será melhor para conseguir ter um olhar mais nítido sobre a composição de gêneros literários da minha estante. 

A geografia das leituras

Outro campo que pretendo detalhar na planilha é a origem dos autores. Registrar país e continente permitirá visualizar de onde vêm as narrativas que me acompanham. É provável que a planilha revele uma concentração de livros de autores europeus e norte-americanos, padrão comum em bibliotecas particulares, e uma presença ainda tímida de produções da América Latina, da África e da Ásia, principalmente entre os livros já lidos. 

Esse mapeamento pode funcionar como alerta para a necessidade de diversificar as leituras e incorporar vozes menos acessíveis, mas igualmente relevantes.

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estante de livros

Por que recomendo catalogar livros

Catalogar a própria biblioteca se mostrou, para mim, mais do que uma tarefa de organização: foi uma maneira de compreender os caminhos da minha leitura, minhas escolhas e limitações. O exercício oferece ao leitor não apenas estatísticas, mas um retrato das estruturas que moldam nossos hábitos: a predominância de determinados gêneros, a distribuição desigual de autoria, o alcance restrito das literaturas periféricas no circuito editorial.

Se você lê com frequência, recomendo experimentar algo parecido. Criar uma planilha de leitura pode parecer um gesto pragmático, mas rapidamente se transforma em uma reflexão crítica sobre o que lemos, o que deixamos de ler e quais histórias encontram espaço em nossa estante. E se você já faz isso, me passa as dicas! Quero muito melhorar essa minha planilha e espero poder compartilhar atualizações em breve. Me falem se querem uma parte 2 desse post! 

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