Resenha: É assim que acaba (Colleen Hoover)

Nos últimos anos foi sendo construído um hype enorme sobre a Colleen Hoover que será difícil de ser superado. A autora está sempre nas listas de mais vendidos, e teve seus livros favoritados por milhares de leitores. Há uns anos atrás li um de seus livros e gostei bastante da escrita da autora, mas resolvi começar 2023 lendo a sua obra mais famosa: É assim que acaba

e assim que acaba

SINOPSE

Em É assim que acaba, Colleen Hoover nos apresenta Lily, uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou em marketing e abriu a própria floricultura. E é em um dos terraços de Boston que ela conhece Ryle, um neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela.
Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja?
É assim que acaba é uma narrativa poderosa sobre a força necessária para fazer as escolhas certas nas situações mais difíceis. Considerada a obra mais pessoal de Hoover, o livro aborda sem medo alguns tabus da sociedade para explorar a complexidade das relações tóxicas, e como o amor e o abuso muitas vezes coexistem em uma confusão de sentimentos.


livro e assim que acaba

O livro começa com uma interação inusitada entre Lily, uma jovem adulta vivendo uma vida normal, mas que teve um passado nada normal, e Ryle, um médico super focado na carreira mas que carrega alguns traumas. A vida dos dois segue em paralelo, mas acaba se chocando novamente quando algumas coincidências acontecem, e rola o inevitável: eles ficam juntos.

De início me senti incomodada com o comportamento dos personagens, que me pareciam nada naturais. O que me fez me conectar com a história foram os diários de Lily, que ela escreveu na adolescência e resolve reler nessa fase de sua vida. Após ter visitado sua terra Natal, o Maine, para o velório de seu pai, Lily trouxe esses diários consigo e os lê carregada de sentimentos. Os relatos são muito interessantes e adicionam profundidade à personagem. 


Um grande impasse desse enredo está em Atlas, um rapaz que fez parte do passado de Lily e inclusive aparece em seus diários. Além do romance que ela viveu com ele, os diários nos revelam o histórico de violência que fez parte do lar de Lily. Esse passado acaba se entrelaçando com o presente, mas acredito que saber mais detalhes estragaria a experiência da leitura.

O que não posso negar é que este livro me surpreendeu. Apesar de saber dos gatilhos que costumam estar presentes nas obras da CoHo, eu não imaginava que seria tão pesado. Senti angústia, nojo, e me emocionei com o enredo diversas vezes. Fazia tempo que um livro me afetava tanto. E depois que ele te prende, não dá vontade de parar até terminar. 
Imagine todas as pessoas que você conhece ao longo da vida. São muitas. Elas surgem como ondas, entrando e saindo aos poucos, dependendo da maré. Algumas ondas são muito maiores e causam mais impacto que outras. Às vezes, as ondas trazem coisas lá do fundo do mar e as largam no litoral. Marcas nos grãos de areia que provam que as ondas estiveram lá, muito depois de a maré recuar." p. 214
Apesar de ter sentido algumas falhas na narrativa, principalmente no início do livro, consegui me envolver bastante com a história e entender o por que de este livro ter cativado tantos leitores. Colleen Hoover com certeza merece os créditos que a tornaram uma autora best-seller. Mas como somos responsáveis por aquilo que cativamos, acredito que as edições de seus livros poderiam alertar de maneira mais clara sobre os gatilhos presentes neles, e a classificação indicativa recomendada de +13 me pareceu inadequada. Diria que é no mínimo um +16, assim como foi com o outro livro que li dela.

Se você está buscando um livro que te prenda e te emocione, recomendo muito esta leitura. Só cuidado pra não entrar no loop que muita gente entrou de só ler livros da Colleen Hoover 😂 A autora até escreveu uma continuação para este livro, chamada É assim que começa, mas achei extremamente desnecessário e estou satisfeita com a forma como este livro terminou. Com certeza ainda lerei mais da CoHo, e acredito que vamos ouvir falar bastante sobre ela nos próximos anos. Vamos ver. 


ISBN: 978-85-01-11251-4
Editora: Galera Record
Nota: 3/5⭐

11 Comentários

  1. Eu sou assustada com a quantidade de leitoras endeusando esse livro. Tem uma narrativa péssima e rasa, a autora é muito irresponsável ao abordar um tema tão delicado e complexo. Pouquíssimas coisas se salvam nesse enredo. É apenas um amontoado de gatilhos pra ganhar hype

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    1. Acredito que o grande problema está na ausência de alerta de gatilho. Considerando que vários livros da autora seguem essa linha, essa sua ideia de que ela usar gatilhos para ganhar hype realmente faz sentido. Acho que o enredo é envolvente e prende o leitor, mas as temáticas realmente são complexas e mereciam mais profundidade.

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  2. Acho que vai muito além de alerta de gatilhos. Ela justifica o agressor sempre que possível, constrói o ciclo da violência mas em momento algum deixa isso claro pro leitor, cria um contexto irreal pro início da relação do Ryle com a Lily (como assim a Lily está de luto e confusa pela morte do pai agressor e encontra um estranho que destrói uma cadeira com socos e chutes e meia hora depois quer dar pra ele???), ela não denuncia ele e ela não tem nenhum motivo pra isso. Enfim.. passaria horas discorrendo o quanto esse livro é problemático

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    1. Eu não sei se é por já estar acostumada a usar a "suspensão de descrença" quando se trata desse tipo de romance, mas essa coisa de do nada surgir um interesse sexual/romântico entre personagens já não me incomoda tanto, e até já virou clichê. Como senti muita raiva do Ryle desde os primeiros sinais de violência dentro do relacionamento, também não percebi essa postura de justificar o agressor, apenas de mostrar qual a origem de seu comportamento. Mas concordo que a autora poderia ser mais consciente, e a ausência de menção a denúncia me incomodou também. Realmente é um livro que dá muito o que falar, e venho mudando a minha percepção sobre ele a medida que leio mais abordagens a respeito. Obrigada por vir aqui compartilhar a sua opinião! Se quiser, me chama no Instagram pra conversarmos mais sobre leitura.

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  3. Com certeza uma leitura forte, e curiosa. Com o alerta de gatilho explicado na excelente resenha, nos dá a escolha de lê-lo ou não, ou até de escolher o melhor momento de fazê-la. Parabéns 👏🏼👏🏼❤️

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    1. Colocar um aviso de gatilho não exime a autora de seus - enormes - erros. Não é uma questão de ter ou não ter gatilhos, mas sim como ela constrói a HISTÓRIA de forma irresponsável, descolada da realidade e dentro de uma visão do senso comum. Como autora de um livro que vai ser lido por diversas pessoas, ela deveria no mínimo ter procurado um profissional estudioso da temática de violência doméstica pra orientá-la sobre como abordar o assunto e como desenvolver a história de forma responsável. Ela poderia deixar os mesmos gatilhos, eles fazem parte da história, porém que fossem contextualizados e reais. Eu sou psicóloga, estudo sobre violência doméstica desde a época da minha graduação e sei cientificamente o quanto esse livro é um desserviço nessa temática

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  4. Pois é. Percebe como é perigosa essa postura do autor? Romantizar contextos injustificáveis pra criar um início de relacionamento é um perigo gigantesco que deixa o leitor insensível a isso e se não tiver um olhar crítico, vemos isso como normal e NÃO É! Principalmente pra uma história que se propõe a discorrer sobre a violência doméstica. A justificativa dele acontece quando conta por exemplo o motivo dele ser agressor e a reação dos personagens é tipo "tadinho, viveu uma fatalidade e agora ele é assim, fez tratamento e nada adiantou, coitado!" ou na primeira cena quando ele destrói a cadeira e depois ele explica que o paciente dele morreu e a reação construída é a mesma "ai, mas o paciente dele criança morreu e ele está sofrendo, tadinho, por isso que ele destruiu uma cadeira". E esse tipo de coisa é totalmente normalizada. Uma pessoa adulta tem a obrigação de saber se regular emocionalmente de forma responsável. Ninguém pode sair destruindo as coisas pq tá bravinho.

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  5. Gosto muito desse livro a escrita bem clara deixando entender melhor a narrativa, mostra um tema pesado mas que é muito importante.

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  6. Concordo que a autoria devia SIM pesquisar sobre o tema abordado, mas cabe ressaltar, que a mãe da autora sofreu os fatos relatados pelo livro. Alguns comentários dizem que a Collen romantizou o que verdadeiramente é, mas ela poderia ter escrito de maneira a não criar gatilhos a leitoras (es) e as fazerem parar de ler ou não lerem (devido a resenhas sobre), assim como deve ter tomado certos cuidados com o próprios sentimento.

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